Nos últimos anos, o debate sobre saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser um tabu e passou a ser uma pauta urgente nas organizações — especialmente no setor da saúde, onde a pressão constante, jornadas exaustivas e a responsabilidade sobre vidas humanas expõem os trabalhadores a níveis elevados de estresse.
Com a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1) pelo Ministério do Trabalho, o cenário legal também começou a refletir essa preocupação. A nova NR-1 reforça a obrigatoriedade da gestão de riscos ocupacionais, incluindo não apenas os riscos físicos e químicos, mas também os psicossociais — como o estresse crônico e a síndrome de burnout.
Essa mudança é vista pelo SinSaúde Rio Preto como um avanço fundamental para a proteção dos profissionais da saúde, que estão entre os mais afetados por problemas de ordem mental e emocional no Brasil.
O que diz a nova NR-1?
A NR-1 trata das disposições gerais sobre saúde e segurança no trabalho e foi reformulada para incorporar uma abordagem mais moderna e preventiva. A principal inovação está na implementação do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que obriga os empregadores a identificarem, analisarem e controlarem todos os riscos no ambiente de trabalho — incluindo os fatores psicossociais.
Com isso, a saúde mental deixa de ser uma responsabilidade exclusiva do trabalhador e passa a fazer parte da gestão ativa de segurança e saúde nas empresas.
Burnout: a epidemia invisível entre os profissionais da saúde
A Síndrome de Burnout foi oficialmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma condição relacionada ao trabalho. Caracterizada por exaustão extrema, desmotivação e sensação de incapacidade profissional, o burnout é especialmente comum em profissionais que atuam na linha de frente, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros trabalhadores da área da saúde.
Durante a pandemia, essa situação se agravou de forma dramática. Mas mesmo após a fase crítica da COVID-19, os efeitos persistem. De acordo com um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz, mais de 40% dos profissionais de saúde relataram sintomas compatíveis com esgotamento profissional.
A visão do SinSaúde Rio Preto
O SinSaúde Rio Preto, que representa os trabalhadores e empregadores da área da saúde em São José do Rio Preto e região, vem acompanhando de perto essa transformação no cenário trabalhista. A entidade acredita que a inclusão da saúde mental nas normas regulamentadoras é uma vitória para toda a categoria.
“A nova NR-1 é um passo importante, mas é preciso que ela seja de fato implementada. Não basta estar no papel. Precisamos que os empregadores levem a sério a saúde emocional de seus funcionários”, afirma Reinaldo Dalur, presidente do SinSaúde Rio Preto.
Para Dalur, a prevenção ao burnout e outras doenças ocupacionais deve fazer parte da cultura organizacional. “É necessário investir em ambientes de trabalho mais humanos, onde exista espaço para o diálogo, pausas adequadas, escalas de trabalho justas e suporte psicológico contínuo.”
A responsabilidade dos empregadores
Com a nova NR-1, os empregadores têm a obrigação legal de promover ações preventivas que contemplem todos os riscos no ambiente de trabalho. Isso significa, na prática:
- Avaliar as cargas de trabalho físico e emocional;
- Implementar políticas de apoio psicológico;
- Treinar lideranças para identificar sinais de esgotamento;
- Oferecer canais seguros para denúncias de assédio moral e pressão abusiva;
- Garantir que as jornadas de trabalho estejam dentro dos limites legais, respeitando descanso e pausas.
Para o SinSaúde Rio Preto, é essencial que os empregadores compreendam que cuidar da saúde mental dos trabalhadores não é apenas uma exigência legal, mas um compromisso ético e estratégico.
O papel do sindicato na proteção da saúde mental
Além de orientar trabalhadores sobre seus direitos, o SinSaúde tem atuado diretamente junto às empresas, promovendo rodas de conversa, treinamentos e ações de conscientização sobre saúde emocional e bem-estar no ambiente profissional.
“Queremos um setor da saúde onde o cuidado comece dentro das instituições. Profissionais saudáveis cuidam melhor de seus pacientes”, afirma Dalur.
O sindicato também oferece atendimento jurídico e psicológico, especialmente para trabalhadores que enfrentam sobrecarga, assédio moral ou estão em processo de afastamento por doenças relacionadas ao trabalho.
Conclusão: um novo paradigma para o setor da saúde
A incorporação da saúde mental como um componente fundamental da segurança do trabalho é mais do que um avanço normativo — é uma necessidade urgente, principalmente em um setor tão sensível como o da saúde.
Com a nova NR-1, o Brasil dá um passo importante rumo a um modelo de gestão mais humano, seguro e sustentável. Mas essa mudança só será efetiva com o compromisso real de empregadores, trabalhadores e entidades representativas.
Nesse cenário, o papel do SinSaúde Rio Preto é fundamental: garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados, que a legislação seja cumprida e que a dignidade de quem cuida da saúde da população seja sempre preservada.