O Brasil é o país que mais tem perdido profissionais da enfermagem para a Covid-19

publicado em: 21/05/2020

Já são 137 as mortes de técnicos, auxiliares e enfermeiros decorrentes da pandemia.

O Brasil é o país que mais tem perdido profissionais da enfermagem para a Covid-19. Segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), já são 137 as mortes de técnicos, auxiliares e enfermeiros decorrentes da pandemia do novo coronavírus.

 
Nos EUA, onde há o maior número de casos do mundo, 91 profissionais de enfermagem morreram até o início deste mês. Itália e Espanha juntas registraram 89 mortes.
 
O número de óbitos no Brasil representa 34% do total mundial, contabilizado em 360 pelo Conselho Internacional de Enfermagem. “O índice muito maior de mortalidade mostra o despreparo do país para enfrentar a pandemia”, afirma Manoel Neri, presidente do Cofen.
 
A região sudeste lidera as mortes nas equipes de enfermagem, com 47% do total. O Rio de Janeiro está no topo, seguido por São Paulo, Pernambuco e Amazonas.
 
A maioria dos que perderam a vida tinha entre 41 e 60 anos. Os mais jovens lideram o número de casos suspeitos. Já foram afastados do trabalho mais de 6.000 profissionais com idades entre 31 e 40 anos e quase 3.000 entre os que estão na faixa entre 20 e 30 anos.
 
Segundo dados do Cofen, mais de 15 mil profissionais de enfermagem precisaram se afastar por suspeita de Covid-19. Destes, 4.717 testaram positivo para o novo coronavírus. O estado de São Paulo lidera a incidência, seguido por Rio, Bahia e Pernambuco.
 
“Tem sido alarmante o número de casos entre os profissionais de enfermagem. É um problema que precisa ser mais bem enfrentado pelo poder público, porque isso leva à desassistência da população”, diz Neri.
 
São várias as razões para o aumento de casos e de mortes entre as equipes de enfermagem. Segundo Neri, há falta de treinamento para lidar com a Covid-19, escassez e baixa qualidade de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), exposição de grupos de risco e sobrecarga de trabalho, que causa cansaço físico e mental, aumentando o risco de contágio.
 
Os conselhos regionais de enfermagem receberam, desde o início da pandemia, mais de 6.200 denúncias, a maioria relacionadas a problemas com EPIs. “Existe um esforço de governos e empresas para a aquisição de EPIs, mas ainda há escassez”, afirma Neri. “A mesma máscara tem sido usada em plantões de 12 horas, mas elas deveriam ser trocadas a cada 2 horas ou, no máximo, 6 horas, porque a eficácia diminui. Além disso, muitos aventais não são impermeáveis”, diz Neri.
 
SOBRECARGA E RISCO
 
Se a falta e a qualidade dos EPIs são problemas que vêm preocupando a enfermagem desde o início da pandemia, agora duas outras denúncias aparecem nas estatísticas do Cofen: excesso de horas trabalhadas e manutenção de profissionais dos grupos de risco na linha de frente contra a Covid-19.
 
“Há uma sobrecarga em função do problema crônico de falta de pessoal, que já existia nos serviços públicos de saúde antes da pandemia, agravada agora pelo fato de que muitos estão adoecendo e precisam se afastar”, afirma Neri. “E nem sempre os profissionais em quarentena são substituídos.”
 
A manutenção de profissionais do grupo de risco no cuidado aos pacientes com Covid-19 também tem contribuído para a letalidade (18% dos que morreram tinham entre 61 e 70 anos) e o alto índice de casos.
 
“Muitos profissionais com mais de 60 anos e com comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, continuam atuando no tratamento dos pacientes, tanto no serviço público como no privado”, afirma Neri.
 
O Cofen e os conselhos regionais de enfermagem estão movendo ações civis públicas contra a União e os hospitais privados para garantir o afastamento dos integrantes dos grupos de risco.
 
Uma liminar já determinou que trabalhadores do sistema público nessas condições sejam realocados para funções que não envolvam contato com pacientes de Covid-19. Os conselhos pedem ainda na Justiça a realização de mais testes para as equipes de enfermagem.
 
“Não temos testagem em massa e isso dificulta o controle da transmissão”, diz o presidente do Cofen. “Testar é importante também para identificar casos assintomáticos, que podem transmitir o vírus”, afirma.
 
Ao contrário do que acontece em muitos países, no Brasil não existe falta de profissionais de enfermagem. São cerca de 2,3 milhões os trabalhadores dessa área e, do total, estima-se que 50% estejam atuando diretamente no combate à Covid-19.
 
Mais de 80% são mulheres e muitos trabalham em dois ou mais hospitais. A categoria reivindica há mais de 20 anos piso salarial nacional e jornada de 30 horas semanais, projetos que estão parados na Câmara dos Deputados.
 
Fonte: Folha

error: O conteúdo está protegido!
Open chat
Quer falar com o Sindicato?
Olá, quero mais informações sobre o sindicato!